O Paradoxo de Ménon

O diálogo de Sócrates com o menino escravo é, para esse autor, uma parábola de reflexão sobre o conhecimento tácito:

“Menon mostra, de forma conclusiva, que, se todo conhecimento é explícito, isto é, capaz de ser claramente enunciado, então não podemos conhecer um problema ou procurar uma solução. E Menon também mostra, portanto, que se um problema existe e podem ser feitas descobertas resolvendo-o, podemos conhecer coisas, e coisas importantes, que não somos capazes de dizer. O tipo de conhecimento tácito que resolve o paradoxo de Menon consiste na intimação de algo escondido que ainda podemos descobrir”.

O escravo de Ménon, que nada sabendo aprioristicamente de geometria, à custa de um diálogo orientado por um filósofo despretensioso, acaba por conseguir dar respostas correctas, sábias, às perguntas "sem nexo" do mestre Sócrates. Não se actua como o sofista que apenas discute pelo (f)acto de discutir sem o prazer de chegar perto da verdade. O inquiridor de discurso assertório é aquele que toma a literatura como facto consumado e diz pseudo-socraticamente: "Não vou investigar nem aquilo que sei nem aquilo que não sei, porque é inútil investigar sobre aquilo que já sei e é impossível fazê-lo se não souber que coisa investigar." O pseudo-socratismo deste inquiridor reside não no enunciado do paradoxo de Ménon mas naquilo que ele não consegue ver para além dele. Retomando as palavras de Sócrates, "é preciso não nos deixarmos persuadir por esse raciocínio erístico. Ele tornar-nos-ia preguiçosos e só seria agradável de ouvir a homens sem espinha dorsal. Este (o meu raciocínio) torna as pessoas trabalhadoras e agarradas ao estudo." (Ménon, 81d). O raciocínio de Sócrates é o dos juízos problemáticos, aqueles cuja afirmação ou refutação é considerada como possível. É esta metodologia de inquirição socrática que devia animar qualquer investigação pergunta em busca de uma resposta.

Depois de ter sido provada a coerência da hipótese “a virtude é saber”, de modo aparentemente bastante para a estabelecer, de acordo com o método hipotético, a sua validade é posta em causa pela prática. Primeiro, é reconhecida a inexistência de homens virtuosos e de mestres de virtude; depois, registada a encarniçada oposição de Ânito a encarar a virtude como tópico de estudo.


O paradoxo de Ménon denuncia a rigidez da concepção eleática do saber,
com a consequente inviabilização da aprendizagem.


O Ménon dá dois inequívocos sinais da consciência, pela parte de Platão, não só da sua insatisfação com a concepção de saber do Fédon e República, como da ineficácia prática da metodologia hipotética.

Depois de ver rejeitadas as suas tentativas para chegar a uma definição de virtude, Ménon objecta às constrições metodológicas a que Sócrates o forçou, alegando que a aquisição do saber é ou impossível, por nem sequer se saber o que se busca, ou inútil, por já se saber à partida .

[EM COSNTRUÇÃO]